William Douglas, magistrado e professor, em seu perfil no
Facebook escreveu e compartilhou com
seus seguidores a reflexão que segue. Vale a leitura!
Acho que Messi merece
brilhar, finalmente, tanto na seleção quanto no Barcelona, talvez até mais, e a
taça faz parte disso. Acho que os holandeses, sempre candidatos, um dia
deveriam experimentar o gosto da vitória no último confronto do certame. Acho
que os alemães, que desde a Copa passada começaram um belo trabalho, merecem o
prêmio por serem tão científicos, organizados, meticulosos, enfim, tão alemães.
E acho que - por mil motivos - nós, brasileiros, merecemos essa Copa.
Contudo, daqui a pouco
sonhos começam a se desfazer, como já se desfizeram tantos outros ao longo do
torneio. Agora, porém, só temos quatro times, e quatro gigantes nas Copas. E
hoje um, amanhã outro, duas nações irão cair em pranto e seus representantes
ficarão com aquela face mórbida do não mais haver. E domingo, enfim, mais uma
nação ficará entristecida. Apenas uma, das quatro – e todas merecem – irá
experimentar o topo, e para 75% deles o que haverá é a derrota, seja ela nobre
ou apontando culpados, os quais às vezes até existem. Porém, mesmo sem erros de
arbitragem ou conspirações, se tudo correr como é pra ser, como é o futebol, ou
seja, mesmo sem acidentes , ainda assim três nações e quem por elas torce , todos
irão sofrer uma perda nos próximos dias. É uma agonia.
Eu já vivi a agonia em
tantas copas, e em apenas duas a glória de ter torcido pelo campeão, o prazer
de sorver o gosto da vitória até o último jogo. Mas tive outras agonias:
escolher entre Medicina ou Direito, entre Nayara e Joaquina, entre a fé e o
ceticismo, entre o descanso e o esforço, e cada decisão que eu tomava ia não só
moldando meu ser, meu futuro e meu planeta, mas, igualmente, destruindo coisas:
o médico, a história com a Joaquina, o agnóstico, o indolente sem o estresse
deste que aqui escreve, em cuja vida inseri minhas escolhas. Esse que sou, no
qual apostei as fichas que tinha.
Quantas profissões deixei
de ter? Como seriam meus filhos com Joaquina? Enfim, cada escolha e cada taça
premia um e mortifica multidões, sejam de times, sejam de vidas. E é assustador
para mim o quanto sou feliz com o Direito, com o Magistério, com a fé, com a
Nayara e com meus três filhos.
A vida é mais generosa do
que as Copas. A Copa escolhe um e defenestra outros, outros que podem ir embora
com a honra de uma Colômbia ou Costa Rica ou como resultado do medo de
prosseguir fazendo gols, como nesta edição agiu o México. Os derrotados de hoje
e amanhã terão algo normal na vida: apenas a chance de tentar um outro título,
menos glorioso, mas ainda assim melhor do que experimentar outra derrota.
A Copa e a vida têm
milhares de histórias, de heróis, de tragédias, de glórias e de surpresas. A
vida, como a Copa, tem bola na trave, impedimento não marcado, gols bonitos, gols
contra, acidentes, contusões e até nobreza, como a do David Luiz mostrando que
Fair Play não é só uma bandeira azul que mostram antes dos hinos. Enfim, a Copa
é tão excitante pelo quanto se parece com o jogo da vida. Por exemplo, em ambos
a tecnologia nos permite rever os lances passados, mas jamais voltar no tempo e
evitar o osso fraturado, o cartão desnecessário, o chute que poderia ter sido
um pouco só mais para a direita. A vida também é um jogo no qual temos um tempo
certo, até prorrogado, mas todos os jogos e todas as vidas um dia acabam, com
ou sem glória, com ou sem taça: não existem campeonatos garantidos, é preciso
ir para o gramado e suar a camisa. E torcer para o time se acertar, para se
houver uma “bola vadia”, que ela seja gentil conosco, e tudo isso sem esquecer
que em geral os melhores times é que levam mesmo a taça, e os times que estão
ainda vivos mostram que competência tem seu lugar sim, convenhamos. A sorte,
mesmo longa, morre até as quartas de final. Por tudo isso, as Copas e a vida
são tão emocionais, passionais e misteriosas.
E, frente a tantas
escolhas, riscos, agonias e constatações, apenas me consola que algumas coisas
da vida não são escassas como, por exemplo, as taças. Creio que a felicidade, a
paz, a amizade, a solidariedade e a prosperidade não são conquistas limitadas a
este ou aquele individuo ou grupo. Creio que o melhor da vida não é uma taça a
qual uns, mais fortes e velozes, mais hábeis e poderosos, têm acesso em
detrimento de outros. Estou certo de que podemos ter taças para todos, faixas
de felicidade em cada peito humano.
Curioso, paradoxal e
assustador, porém, é o fato de que para alcançarmos essa multidão de campeões
iremos precisar ter as qualidades de um time para levar para sua casa a Copa:
treino, garra, disposição, equipe, e até um pouco de sorte. E a vida ainda é
mais bela por um motivo: enquanto estamos por aqui, estamos todos escalados.
Daí, que possamos entrar em campo e jogar bonito nosso melhor futebol. E desejo
isso (jogar bonito e seu melhor futebol), na Copa, a brasileiros, argentinos,
alemães e holandeses; e, na vida, a vc leitor, que tabelou comigo até aqui.