O Provocador, comentando sobre a AP 470 em seu blog, disse:
Joaquim Barbosa não é
herói. Ricardo Lewandowski não é vilão. Nem vice-versa. Eles são simplesmente
juízes do Supremo Tribunal Federal. E discordam — para desgosto dos que
prefeririam ver todos os réus sendo unanimemente massacrados em público.
Como era de se esperar, o
julgamento da ação 470 (ou mensalão, para os íntimos) está despertando paixões
e calorosas infâmias nas redes sociais — e, indevidamente, nas entrelinhas do
noticiário que vê nesse processo uma revanche contra o PT.
O fato é que se criou um
clima de linchamento virtual do ministro Ricardo Lewandowski. O revisor do caso
se atreveu a desapontar a “voz rouca das ruas” e defendeu nesta quinta, 23, a
tese da inocência do ex-deputado João Paulo Cunha.
O petista é acusado de
corrupção, peculato e lavagem de dinheiro no período em que exerceu a
presidência da Câmara dos Deputados.
Por consequência, o voto de
Lewandowski também absolve desta
acusação o empresário Marcos Valério e seus sócios. Estes já estão com a corda
no pescoço por conta de outros crimes que lhes são imputados (e que já
receberam parecer condenatório do própiro Lewandowiski, é fundamentgal
destacar).
Mesmo discordando do voto
pela absolvição (a ser acompanhado ou não por seus pares), não dá para dizer
que foi apressado ou sem fundamento. Pelo contrário, foi sólido, baseado em
pareceres do Tribunal de Contas e da Policia Federal, além de dezenas de
testemunhas. Podem espernear os que não gostaram, mas foi um voto técnico, como
virou moda dizer.
Não interessa se os
argumentos dele sejam coerentes e baseados em documentos e testemunhas. Até
porque poucos brasileiros têm tempo e disposição para encarar as enfastiantes
horas que duram os explanações dos nossos supremos magistrados.
Na verdade, tanto faz, já
que a maioria acha que todos são culpados. E pronto.
Qualquer ministro que ouse
admitir evidências de que algum dos acusados seja inocente será tratado como
inimigo do povo. E será difamado no escurinho do anonimato ou na balbúrdia de
tuítes covardes e grosseiras fanfarronices que infestam a internet.
Que a galera queira ver
sangue nos olhos de nossos juízes é fácil de entender. Todo político é ladrão,
proclama o senso comum. “É o maior escândalo da historia deste país” se tornou
um bordão patético, facilmente desmentido pelos bilhões que escoaram pelos
esgotos da privataria tucana ou da era Collor.
“Cadeia para os
mensaleiros”, gritam os posts e comentários (inclusive de jornalistas que se
comportam como torcida uniformizada).
Arrisco dizer que é remota
a possibilidade que todos os 38 réus sejam condenados. Dois já escaparam: um
por falhas processuais; outro por absoluta falta de provas. Luís Gushiken é
inocente, diz até mesmo o procurador Roberto Gurgel.
Joaquim Barbosa, tudo
indica, vai propor a condenação de todos os que sobraram, de baciada. É no que
ele acredita, merece respeito. Seus votos até aqui também são sérios,
caudalosos, fruto de muito trabalho. A galera gosta.
Mas como relator e revisor
apresentaram interpretações opostas, é razoável concluir que um deles está
gravemente equivocado. Uma pessoa não pode ser culpada e inocente ao mesmo
tempo.
E se preparem: é bem
provável que algumas votações sejam apertadas, com risco até de empate. Mesmo
ministros do Supremo são falíveis. Para o bem ou para o mal. Lamento informar.
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