“A justiça sustenta numa das mãos a balança que pesa o direito, e na outra, a espada de que se serve para o defender. A espada sem a balança é a força brutal; a balança sem a espada é a impotência do direito” - Rudolf Von Ihering



quarta-feira, 25 de maio de 2011

Amor: sepultura ou pôr do sol?

Há um belíssimo conto de Lygia Fagundes Telles, “Venha ver o pôr do sol”, que traz uma reflexão sempre atual sobre o significado do amor e da relação entre os amantes.

Numerosas pesquisas apontam a covardia dos homens como um importante indicador dos atos de violência contra as mulheres. Recentemente, a imprensa alardeou um dado assustador: o de que, a cada 2 minutos, 5 mulheres são espancadas no Brasil. Na maioria dos casos, os espancamentos e as mortes ocorrem depois de algum tempo de convivência. São cometidos, com maior frequência, pelos namorados, pelos maridos, pelos amantes – pelos companheiros, enfim. Depois, aparecem os padrastos, os pais, os irmãos e afins como responsáveis. O lar, que deveria ser um espaço de harmonia e de convivência, transforma-se em um palco de guerra.

Na semana passada, emissoras de televisão mostraram imagens de um casal de jovens, ex-namorados, em um elevador. O rapaz tentava matar a moça por não concordar com o fim do namoro. A cena é de uma crueldade chocante. Chutes, socos e um cinto utilizado para enforcá-la. O “valentão” usou o amor para justificar a ação. Não poderia viver sem a ex-namorada. Seu amor era grande demais.

Será isso o amor? O rapaz não poderia viver sem ela ou não poderia tolerar o fato de ser “abandonado”?

No conto de Lygia, a mulher também resolve terminar o relacionamento. E o homem a convida para acompanharem, juntos, um último pôr do sol. Ela aceita, até porque teve uma história com ele e não gostaria de que as coisas acabassem de uma forma desagradável. Ele, estranhamente, marca o encontro em um cemitério, onde seria possível contemplar melhor o pôr do sol. E, lá, os dois caminham, conversando, entre as sepulturas.

O conto é recheado de metáforas. Os personagens estão entre mortos. E, assim, nesse clima, o homem convida a mulher a entrar sozinha em um mausoléu. Ela concorda. Não quer magoá-lo. Vale a pena ler o conto para acompanhar o desfecho da história.

Quem ama não agride e não aceita a agressão. As mulheres vitimadas pela violência têm muita dificuldade, infelizmente, em denunciar seus companheiros. Ficam imaginando quão complicado é ver preso o pai dos próprios filhos, criam desculpas para as ações agressivas; não em poucos casos, assiste-se a um final trágico. Como no conto.

É preciso que as mulheres assumam uma posição firme diante de qualquer tipo de violência praticado por seus companheiros. E denunciem. A violência física pode ser antecedida por uma violência simbólica, moral, que também é dolorosa. O aperitivo do espancamento pode ser um empurrão, um tapa leve. Na origem de tudo, está a ausência de um valor essencial para a convivência humana: o respeito.

O amor, definitivamente, não é um caminho para a sepultura. Pode até contemplar um pôr do sol, mas com esperanças…

Por Gabriel Chalita, Filósofo, Educador e Deputado Federal.

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