Comentário de Carlos Motta, em seu blog.
Encontrei na lista de notícias da Agência Brasil um título
enorme, em duas linhas, que não só me chamou a atenção, como me deu esperanças
de que algum dia, quem sabe, este seja um país em que a Justiça prevaleça acima
dos interesses dos poderosos, dos ricos, da elite, enfim. O título da matéria é
o seguinte: "Desembargador do TRF4 é aposentado compulsoriamente porparticipação em esquema de venda de decisões judiciais."
Quando acabei de ler a notícia, porém, voltei ao meu natural
espírito de desalento com este mundo velho de guerra em que vivemos, cheio de
coisas boas que, infelizmente, são eclipsadas pela natural ganância, cinismo,
crueldade e soberba do homem.
A notícia que poderia ser ótima, mas que é apenas um exemplo
de como as coisas funcionam para certa casta de privilegiados, é a seguinte, na
íntegra:
O desembargador do
Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) Edgard Antônio Lippmann Júnior
foi aposentado compulsoriamente hoje (30) pelo Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), por participação em esquema de venda de decisões judiciais. O
desembargador, afastado de suas funções pelo CNJ desde 2009, vai receber
salário proporcional ao tempo de serviço.
De acordo com o CNJ, o desembargador concedeu
um liminar, em novembro de 2003, para possibilitar a reabertura e manutenção de
uma casa de bingo da empresa Monte Carlo, em Curitiba, em troca de vantagens
financeiras.
Provas coletadas pelo
conselho apontam que, no período em que foi relator da ação, Lippmann recebeu
em suas contas depósitos semanais. Segundo o processo, entre 2000 e 2004, os
rendimentos do desembargador apresentaram um incremento de 10%. Já as
movimentações financeiras realizadas por ele, em 2004, passaram de R$ 60 mil
para mais de R$ 1 milhão. Durante o período, Lippmann também adquiriu diversos
imóveis em nome de parentes.
A punição ao
desembargador foi aprovada por unanimidade. Os conselheiros do CNJ acompanharam
o voto do relator do processo, conselheiro Bruno Dantas. Além de aplicar a
penalidade ao magistrado, o conselho decidiu ainda encaminhar os autos do
processo administrativo disciplinar ao Ministério Público Federal e à
Advocacia-Geral da União. Na área penal, o caso está tramitando no Superior
Tribunal de Justiça (STJ).
Então é isso: o sujeito, um daqueles "bandidos de
toga" que a destemida corregedora nacional do CNJ, Eliana Calmon,
denunciou, é pego com a mão na botija e recebe, dos seus nobres pares, como
castigo, nada mais que o afastamento de suas funções e a
aposentadoria...remunerada!
Em outras palavras: nós, cidadãos honestos, estamos
contribuindo, com todos os impostos e taxas que pagamos, para que um juiz
corrupto receba vencimentos sem trabalhar, sem fazer nada.
A sua punição foi ser aposentado recebendo salários
proporcionais ao tempo de serviço!
E eu que sempre achei - ou fui induzido desde criancinha a
achar - que a Justiça é cega, igual para todos.
E ainda há quem jure que Papai Noel não existe...