“A justiça sustenta numa das mãos a balança que pesa o direito, e na outra, a espada de que se serve para o defender. A espada sem a balança é a força brutal; a balança sem a espada é a impotência do direito” - Rudolf Von Ihering



segunda-feira, 4 de abril de 2011

DEFICIENTE NÃO DE SENSIBILIDADE


Conheci, no Facebook, várias pessoas. Entre elas está uma que, na ocasião das últimas eleições presidências, debatíamos muito sobre o tema. Muito embora, cada um defendendo e respeitando o ponto de vista alheio. Debate civilizado. Assim, não houve incidentes e a amizade virtual perdura. Mantemos contato sempre que possível.

Trocamos algumas mensagens eletrônicas. Em uma dessas mensagens, encontrava-se anexadas algumas fotos. Tenho por hábito deletar de pronto mensagens que contenham fotos. Tendo em vista meu PC ter sido infectado em algumas ocasiões. Essa, porém, foi diferente. Confesso que tomei as devidas precauções objetivando não ter mais problemas posteriores em razão de vírus.

Afastadas as questões preliminares que me amedrontavam, abri a mensagem e contemplei todas as fotos. Entretanto uma (acima) chamou minha atenção por tratar-se de algo (in)comum. Pelo menos para mim.

Afoiteza sempre me encantou. Lembro-me, ainda que vagamente, de que quando saía para o trabalho, nas manhãs ensolaradas (e, chuvosas também) lá do bairro de São Mateus, extremo leste de São Paulo, sentido Praça da Sé e, quanto chegava ao Parque Dom Pedro, era o fim da linha para mim.

Porém ainda tinha que caminhar alguns minutos até chegar ao destino final, que era exatamente na Rua General Glicério – Anhangabaú – bem próximo à estação Anhangabaú do metrô.

Pois bem. Quando chegava ao ponto final (Parque Dom Pedro) eu rumava sentido Ladeira General Carneiro para ter acesso à Rua Direita, onde seguia até o final e assim passava no viaduto do Chá e, pronto, chegava ao trabalho.

A frequência com que fazia esse trajeto permitiu que memorizasse algumas características do local. Quem conhece a região, principalmente a Rua Direita, sabe que ali existe muitas lojas, paisagens agradáveis (desagradáveis, muito mais!) além das milhares de pessoas que passam por ali.

Àquela hora que passava por ali, tanto na inda quanto no retorno, notava que ele estava lá, incansável. Enquanto muitos na mesma condição ou em condições bem mais privilegiada estavam estacionados no comodismo. Vítimas da mais absurda pasmaceira.

Desperdicei a oportunidade de conhecê-lo. Todavia, trago comigo a rica lembrança da mais rica metrópole e suas várias contradições. Essa lembrança não se resume a tão somente mais um cidadão elitizado, que ganhou notoriedade pelos meios de comunicação.

Trata-se de um deficiente físico, muitas vezes rejeitado pelo Estado, pela sociedade sem no entanto se abater. Pelo contrário, levantou a cabeça e seguiu em frente, com dignidade. Chuva ou sol estava ele lá, no horário, trabalhando.

Para felicidade, existe muitos outros (deficientes – não de sensibilidade – espalhados pelo Brasil) que nos honram e nos motiva com sua disposição, competência, determinação. Lembrei-me desse fato assim que vi essa foto enviada pelo amigo. Anos se passaram.

Hoje, fatos supervenientes fizeram com que me distanciasse da mais rica metrópole e seus (des)encantos. Contudo, a imagem desse cidadão será eternamente lembrada. O governo do Estado, que, com sua omissão aberrante, avilta, e rechaça os mais elementares direitos, considera tão somente tratar-se de mais um cidadão José.
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Foto: Alemão Ferraz

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