“A justiça sustenta numa das mãos a balança que pesa o direito, e na outra, a espada de que se serve para o defender. A espada sem a balança é a força brutal; a balança sem a espada é a impotência do direito” - Rudolf Von Ihering



domingo, 25 de setembro de 2011

Seis anos após adotar irmãos, pais tentam devolver um deles

Seis anos após adotar dois irmãos, um casal de Santa Catarina tentou devolver o mais velho, alegando problemas de relacionamento.

Moradores do vale do Itajaí, eles acabaram perdendo o poder familiar -deveres com relação à criança, incluindo a guarda- do garoto, de 12 anos, e da menina, de dez. Foram ainda condenados a indenizar cada criança em R$ 40 mil. Os nomes do casal e de seus defensores não foram divulgados.

Psicólogos e assistentes sociais constataram que o menino sofria discriminação e maus-tratos psicológicos.
Quando fazia xixi na cama, era obrigado a lavar os lençóis. Também ficava trancado no quarto a noite inteira.

Além disso, enquanto o filho biológico do casal, de 14 anos, estudava em uma escola particular, os filhos adotados estavam na rede pública.
Segundo a juíza do caso, que não quis ter seu nome divulgado (o caso corre sob segredo de Justiça), a mãe já havia levado o menino várias vezes ao Judiciário, dizendo que a criança era violenta.

A magistrada disse que, no ano passado, a mulher, de classe média alta, foi ao fórum, falou que não queria mais ficar com a criança e a abandonou no local.
Para a juíza, a mãe queria adotar só a menina, na época com cerca de três anos. Mas a lei não permite separar irmãos. "Ela o levou num 'compre um, leve dois'. Mas depois não conseguiu suportar."

A menina, apesar de ser desejada pela família, foi retirada de casa porque a juíza entendeu que ela também sofria maus-tratos. Segundo a magistrada, a garota presenciava o que ocorria com o irmão e temia sofrer rejeição.

A decisão de tirar as crianças dos pais é de 2010 e foi dada a partir de um pedido do Ministério Público.

Quando souberam que perderiam também a filha, os pais recorreram, alegando, segundo o Tribunal de Justiça do Estado, que nem todas as possibilidades de reinserção familiar das crianças haviam se esgotado.

Mas, em junho deste ano, a sentença foi confirmada pelo TJ, que estabeleceu o valor da indenização.

Desde o ano passado, as crianças estão em um abrigo. Elas só poderão ser adotadas quando as possibilidades de recurso no caso se esgotarem, o que ainda não ocorreu.

As chances de serem adotadas agora, porém, são baixas, pois a maior parte dos pretendentes à adoção deseja crianças de até três anos, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça.

Segundos especialistas em direito da infância, a adoção é uma medida irrevogável, ou seja, não é possível devolver filhos adotados.

Criança foi tratada como mercadoria, afirma psicóloga

A intenção de devolver um filho adotivo como se fosse um produto demonstra que ele nunca foi reconhecido como filho, diz a psicóloga Vivien Bonafer Ponzoni, da Associação Brasileira de Psicodrama e Sociodrama.

"Quando você adota, vive com os filhos como se fossem legítimos e tenta alternativas para resolver os problemas."

Segundo a psicóloga, a rejeição pode trazer consequências "devastadoras" no comportamento e na saúde mental e física da criança, que precisa ter confiança no adulto para se desenvolver.

Para Ariel Alves, vice-presidente da Comissão Nacional da Criança e do Adolescente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a rejeição é um processo "extremamente traumático". "É como se a pessoa tratasse a criança como um produto que está na prateleira: escolheu, usou e depois foi trocar", afirma.

Ponzoni ressalta ainda que a Justiça deve ser cuidadosa para não prejudicar a menina por tê-la retirado de casa, já que ela parece ter criado laços afetivos com a família.

De acordo com advogados consultados, no entanto, a lei de adoção determina que irmãos biológicos não sejam separados porque muitas vezes esse é o único vínculo familiar que restou.

A juíza do caso afirma que a menina foi ouvida e disse que preferia ficar com o irmão. Além disso, laudos de um psiquiatra, um psicólogo e um assistente social apontaram que o casal não estava preparado para a adoção.

Fonte: CNJ

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