(**) Poesia jurídica
I
Habeas-Corpus
Magistrado Supremo do Universo.
Em nome da razão e do direito
- A ciência em que vivo submerso -
Um protesto solene tenho feito.
Em nome da razão e do direito
- A ciência em que vivo submerso -
Um protesto solene tenho feito.
Não creia que se viva satisfeito
No Império do Destino contraverso,
Para onde em caminhada sem proveito
Converge a humanidade ao seu reverso.
No Império do Destino contraverso,
Para onde em caminhada sem proveito
Converge a humanidade ao seu reverso.
Cinqüenta e três janeiros, já contando,
Vejo a morte cruel se faceirando
Pra quem na terra almeja a paz dos corpos.
Vejo a morte cruel se faceirando
Pra quem na terra almeja a paz dos corpos.
E contra esta ameaça muito grave,
Que surgiu, eu não sei de qual conclave,
Impetro o meu jurídico habeas-corpus.
Que surgiu, eu não sei de qual conclave,
Impetro o meu jurídico habeas-corpus.
II
Sentença
O Código Divino inexorável,
Lei de todos os tempos da Natura,
No rigor dos capítulos se afigura
A sentença de fogo, irrevogável...
Lei de todos os tempos da Natura,
No rigor dos capítulos se afigura
A sentença de fogo, irrevogável...
Tudo está detalhado na Escritura,
De modo simplesmente invulnerável;
E no âmbito terrestre justiçável,
Deve estar conformada a criatura.
De modo simplesmente invulnerável;
E no âmbito terrestre justiçável,
Deve estar conformada a criatura.
Não importa, neste caso, um descontente,
Dentre tantos milhões de massa humana,
Com as leis que governam toda gente.
Dentre tantos milhões de massa humana,
Com as leis que governam toda gente.
O assunto já é bem velho e discutido...
Não se enquadra habeas-corpus desta plana...
Deve ser, como fica, indeferido.
Não se enquadra habeas-corpus desta plana...
Deve ser, como fica, indeferido.
III
Recurso
Interpondo recurso extraordinário,
Da sentença lavrada, oh!... Pai Eterno!...
Meu respeito deponho no sacrário,
Ofertando aos arcanjos, bom falerno.
Da sentença lavrada, oh!... Pai Eterno!...
Meu respeito deponho no sacrário,
Ofertando aos arcanjos, bom falerno.
É o caso do habeas-corpus!... Meu fadário!...
Sede mais complacente; sede terno
Com este filho já cinqüentenário,
Que na terra é modesto qual aderno.
Sede mais complacente; sede terno
Com este filho já cinqüentenário,
Que na terra é modesto qual aderno.
Com as onze mil viagens, lá no céu,
Um grande tribunal constituindo,
Fareis o que suplico por troféu.
Um grande tribunal constituindo,
Fareis o que suplico por troféu.
E Vós sentenceis, JUIZ, assim:
Revogando a sentença, deferindo
A petição, pra vida não ter fim.
Revogando a sentença, deferindo
A petição, pra vida não ter fim.
IV
Acórdão
Relatando o habeas-corpus em recurso,
Impetrado a favor do recorrente,
Acórdão em conferência, em concurso,
De acordo com as virgens do ambiente,
Impetrado a favor do recorrente,
Acórdão em conferência, em concurso,
De acordo com as virgens do ambiente,
Tomar conhecimento do decurso
Na medida impetrada incipiente,
Pra manter a sentença, em todo curso,
Examinado, enfim, o incidente.
Na medida impetrada incipiente,
Pra manter a sentença, em todo curso,
Examinado, enfim, o incidente.
Constranger a quem quer passar da vida
Para outra mais pura e sempre anímica,
É matéria de juris decidida.
Para outra mais pura e sempre anímica,
É matéria de juris decidida.
O caso foi julgado com firmeza,
De acordo com a lei da bioquímica,
Combinado com as leis da Natureza.
De acordo com a lei da bioquímica,
Combinado com as leis da Natureza.
Octaviano Augusto Soriano de Mello nasceu no Piauí, na véspera do natal de 1889. Foi juiz de Direito no Amazonas, estado no qual a sentença mencionada no poema foi enfim cumprida, no ano de 1947.
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